Brasileira supera o câncer e cria grupo de apoio a brasileiros na Irlanda

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O câncer, uma doença que se manifesta de maneira silenciosa e desafiadora, pode impactar drasticamente a vida de qualquer pessoa. A história emocionante que vamos compartilhar aqui destaca não apenas a resiliência individual, mas também a importância vital do apoio da comunidade em momentos tão difíceis.

Eu não sentia dor, meu câncer era silencioso.”

Contaremos a seguir a jornada de enfrentar múltiplos cânceres que foi vivida pela brasileira, Marcia Miranda e que nos revela a necessidade crucial de união e apoio entre indivíduos, enquanto também ressalta a fundamental importância dos exames preventivos para detectar precocemente essa doença complexa.

Marcia, natural de Itajaí – Santa Catarina, viveu por 22 anos em São Paulo. Aos 46 anos, embarcou em uma nova fase de sua vida ao se mudar para a Irlanda. Hoje, em 05 de janeiro, completa 60 anos cercada de amigos e familiares, não faltando motivos para comemorar mais um ano de vida.

Em um mundo onde a saúde muitas vezes parece ser um dom invisível, sua vida tomou um rumo inesperado quando, durante uma consulta para investigar um problema renal, um nódulo silencioso começou a desenhar uma narrativa completamente diferente em sua história.

O câncer, sutil e silencioso, fez sua presença conhecida enquanto ela buscava respostas sobre seu rim. Um nódulo no pescoço chamou sua atenção, e assim começou uma jornada de descobertas que mudaria sua vida para sempre. A biópsia, realizada em meados de junho, revelou a presença do câncer, lançando Marcia em uma investigação minuciosa para determinar a extensão da doença.

“Em consulta com a GP, estávamos verificando um problema no meu rim, fui encaminhada ao especialista no hospital para exames de sangue. No decorrer da investigação dos rins, notei um nódulo crescendo no lado esquerdo do pescoço. Mostrei o nódulo para a medica que enviou uma carta para o hospital solicitando ultrasson. Os resultados do ultrasson voltaram, solicitaram biopsia, e em meados de junho o resultado confirmou o câncer.”

“Restava saber agora em qual parte do meu corpo estava a doença. Fomos para exames mais detalhados, e foi quando identificaram um nódulo na mama esquerda. Comparando as duas biópsias, o nódulo do pescoço não estava relacionado à mama. Existia outro câncer, em outro lugar. Iniciamos o tratamento para a mama e continuamos a investigação para descobrir o outro câncer”, lembrou Marcia.

A confirmação dessa notícia devastadora coincidiu com um momento que deveria ser de pura alegria – meu casamento planejado para 18 de agosto de 2021. Diante de tal reviravolta na trama da minha vida, a incerteza pairava sobre mim.

“Antes de receber essa notícia devastadora, eu estava planejando meu casamento, com a data confirmada. Diante das notícias horrendas, já não sabia mais o que fazer. Conversando com o oncologista no hospital, eu disse: “Se meu casamento atrasar o início do tratamento, nós cancelamos tudo.” Minha cabeça estava muito confusa. Mas o oncologista nos aconselhou a seguir adiante com o casamento, e o tratamento seguiria logo após a cerimônia, sem riscos para minha saúde.”

Sendo assim, em meio à pandemia e ao diagnóstico de câncer, Marcia e seu esposo tomaram a decisão corajosa: casar. Isso se deu graças ao sábio oncologista que os encorajou a prosseguir com o casamento.

Em um íntimo encontro no jardim dos tios do seu marido, reuniram 20 pessoas para celebrar o amor que os unia. Foi um evento mágico, onde o suporte e o amor dos presentes tornaram-se uma força motriz em meio à tormenta.

As semanas seguintes foram marcadas por cirurgias, tratamentos e uma busca incessante pela erradicação do câncer.

“Quinze dias após o casamento, fiz cirurgia para remover ovários e trompas de falópio, pois o oncologista estava certo de que o segundo câncer estava lá, uma vez que todo o resto do meu corpo havia sido examinado e não havia sinais positivos para o segundo tumor. E realmente, o câncer estava lá, quietinho, escondido dentro dos ovários e trompas. A boa notícia é que nem o câncer de mama nem o dos ovários haviam se espalhado.”

Lembro de sentar no sofá e me perguntar, “Meu Deus, como vou lidar com isso?” Minha mente não me perguntava “por que eu”, mas o que eu poderia fazer para aceitar o câncer sem me revoltar ou reclamar, sem cair num buraco imenso de tristeza. Eu chorava e rezava para ter forças para lutar contra a doença.

Então, uma ideia veio à minha cabeça, fazer algo que pudesse melhorar o ambiente da oncologia durante as sessões de quimioterapia, tirando o foco da doença. Em outubro, iniciei um plano de tratamento de seis sessões de quimioterapia.”

Durante sua luta contra a doença, uma ideia surgiu como uma luz em meio à escuridão: transformar as sessões de quimioterapia em momentos mais leves. Assim, vestida de Olaf, Marcia distribuiu pirulitos para os pacientes, desviando o foco da doença e inspirando sorrisos. Camisetas com mensagens positivas foram criadas para cada sessão, e a jornada da quimioterapia se tornou uma oportunidade para disseminar alegria.

“Ninguém me conhecia, e de alguma forma, isso era bom, pois não tive vergonha de fazer o que tinha que ser feito. Depois de olhares desconfiados e de aceitarem os pirulitos, fui chamada para o meu tratamento. E com espanto, todos me olharam. Então eu disse: “Sim, eu sou uma de vocês”. Camisetas com frases positivas foram feitas para cada quimioterapia. E assim segui até o final. Foi uma forma de transformar minha dor em algo bom para os outros, ajudando-me a passar pelo tratamento, fazendo as pessoas sorrirem.

“Terminei minha quimioterapia, fiz cirurgias, passei por radioterapia e continuo indo ao hospital a cada três semanas para tratamento de imunidade, levando biscoitos para todos, inclusive as enfermeiras. E eles já me esperam. A alegria deles quando chego com os casadinhos é um bálsamo para a minha alma.”

Márcia Miranda (originária do Brasil) e moradora de Dublin, que sobreviveu ao câncer de mama e ovário, vestida como Olaf de Frozen durante sua quimioterapia para alegrar as pessoas na ala. Foto por Steve Humphreys, 23 de março de 2023.

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E é nesse cenário de superação e em meio à sua própria batalha contra o câncer, a brasileira, Marcia Miranda não apenas encontrou forças para enfrentar os desafios, mas também decidiu criar um grupo de apoio para brasileiros na Irlanda que enfrentam essa doença. O grupo, intitulado “Amor, Simples de Doar“, reúne diversos voluntários dispostos a oferecer suporte emocional, prático e solidário.

Marcia Miranda, movida pela compaixão e empatia, transformou sua própria experiência em uma fonte de inspiração para outros. “Amor, Simples de Doar” não é apenas um grupo de apoio; é uma comunidade que se propõe a tornar a jornada daqueles que enfrentam o câncer um pouco mais leve. Marcia e seus voluntários dedicam tempo e esforço para proporcionar um ambiente acolhedor, onde a esperança é cultivada e a solidariedade floresce.

Hoje, com gratidão no coração, Marcia pode afirmar que o câncer desapareceu, e que está curada. O sábio oncologista, ensinou que a positividade representa metade da batalha. A cada visita ao hospital, leva biscoitos, símbolo de gratidão pela equipe que foi sua fonte de apoio.

“O câncer desapareceu, estou curada. Meu oncologista na primeira consulta disse que a positividade era 50% do tratamento. E esta era a arma que eu tinha para continuar seguindo adiante, sem pensar. Eu não tinha dúvidas de que ele estava certo. A cada tratamento, recebia sorrisos dos pacientes e também das enfermeiras. Eu era a mais beneficiada. Mantenha sua esperança viva!”

Que minha história sirva como testemunho de que a esperança é uma força capaz de transformar a dor em propósito, a adversidade em resiliência, e a solidariedade em uma rede de apoio indispensável.

“Não deixe que a doença seja maior do que a história de vida que você já escreveu.”

Essa história de superação nos faz reconhecer a importância de iniciativas como a criação do grupo pela Marcia. A união de forças, a troca de experiências e o apoio mútuo são elementos essenciais na jornada contra o câncer.

Texto adaptado ao depoimento da Marcia Miranda.

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