A taxa Selic, um dos principais instrumentos de política monetária no Brasil, tem sido objeto de atenção e análise constante por parte de economistas, investidores e agentes do mercado financeiro.
A sua definição e movimentações têm impacto direto na economia do país, influenciando o custo do crédito, a inflação e o comportamento dos investimentos.
Além dos riscos fiscais e da persistente inflação, que mantêm a Selic em 13,75% ao ano desde agosto de 2022, e da pressão política por cortes na taxa, outras questões também estão em jogo e podem favorecer uma redução dos juros por parte do Banco Central.
A primeira delas é a falência do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank, os maiores bancos americanos a quebrarem desde a crise de 2008.
O medo de que esse caso se tornasse um problema sistêmico levou o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, a anunciar um pacote de medidas emergenciais, enquanto os agentes de mercado começaram a precificar uma interrupção do ciclo de aumento das taxas de juros americanas.
Nesse momento de crise, elevar a taxa poderia retirar ainda mais liquidez do mercado. Se essa situação se confirmar, isso abriria espaço para que o Banco Central brasileiro iniciasse a redução da Selic, como explicamos em detalhes aqui.
No Brasil, a possibilidade de uma crise de crédito também é preocupante. Esse cenário ganhou força após ser mencionado na carta mensal do gestor Luis Stuhlberger, da Verde. O “credit crunch” ocorre quando as instituições financeiras restringem muito o acesso ao crédito para empresas e indivíduos, resultando em uma quebra sistêmica generalizada.
Tudo isso se soma à discussão sobre o risco fiscal, enquanto analistas e economistas aguardam a apresentação do novo arcabouço que substituirá o Teto de Gastos. Segundo fontes ouvidas pelo E-Investidor, se as regras forem favoráveis, indicando um maior controle dos gastos e da dívida pública, isso favoreceria um corte na Selic.
Por outro lado, se o mercado entender que a proposta não é suficiente, a possibilidade de manter os juros em 13,75% ao ano por mais tempo ganha força.
Com tantos fatores em jogo, as perspectivas para o futuro da Selic variam amplamente. O boletim Focus mais recente que foi divulgado, mostra que, pela quinta semana consecutiva, parte do mercado projeta uma Selic de 12,75% no final de 2023, o que significaria cortes de um ponto percentual na taxa.
Neste artigo, discutiremos as projeções e perspectivas para a taxa Selic no final de 2023, levando em consideração diversos fatores econômicos, políticos e internacionais que podem influenciar as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom).
Ao analisar as projeções de diferentes instituições financeiras, observa-se uma diversidade de perspectivas em relação à trajetória da taxa Selic.
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Algumas corretoras, como a Ativa Investimentos, projetam manutenção da taxa em 13,75% ao ano ao longo de 2023, destacando a importância do controle da inflação e das expectativas inflacionárias para a definição da política monetária.
Por outro lado, corretoras como a CM Capital e a RB Investimentos preveem cortes graduais na taxa, chegando a patamares próximos de 12,5% ao final de 2023.
Essas projeções levam em consideração fatores como a possibilidade de aprovação de reformas fiscais, a melhora das condições internacionais e a necessidade de estimular a atividade econômica.
Já a Genial Investimentos projeta uma taxa de 14,5% ao ano, baseando-se em um cenário mais cauteloso e incerto em relação ao arcabouço fiscal do país. A Nord Research e a XP Investimentos, por sua vez, mantêm a projeção de 13,75% ao ano, considerando o atual contexto inflacionário e os desafios fiscais enfrentados.
No entanto, entre outras corretoras consultadas, há até previsões de que os juros brasileiros possam ultrapassar 14% até o final do ano.
• Safra Investimentos: 12,5% ao ano
A Safra Investimentos projeta uma taxa Selic de 12,5% ao final de 2023. Segundo seu economista-chefe, Carlos Kawall, embora existam fatores que sugerem uma queda nos juros, como a possibilidade de um novo arcabouço fiscal mais robusto e uma melhora no cenário externo, ainda há incertezas significativas. Kawall destaca que é necessário observar o andamento das reformas estruturais e a evolução dos indicadores econômicos antes de se ter uma visão mais clara sobre a trajetória da taxa básica de juros. Portanto, a projeção de 12,5% reflete uma postura cautelosa, considerando os diferentes cenários possíveis.
• Credit Suisse: 13,5% ao ano
O Credit Suisse estima que a taxa Selic encerre o ano de 2023 em 13,5%. Para Nilson Teixeira, economista-chefe do banco, as incertezas fiscais e o comportamento da inflação ainda justificam a manutenção dos juros em patamares elevados. Teixeira ressalta que, embora haja expectativas de um novo arcabouço fiscal, é preciso aguardar a definição das medidas e sua efetiva implementação para avaliar seu impacto nas decisões do Banco Central. Além disso, o cenário internacional e as políticas monetárias dos principais bancos centrais também são fatores relevantes a serem considerados.
• Santander: 12,75% ao ano
O Santander projeta uma taxa Selic de 12,75% no final de 2023. Maurício Molon, economista-chefe do banco, destaca que a instituição vê espaço para cortes graduais nos juros, embora em um ritmo mais lento do que o mercado espera. Molon ressalta a importância de uma retomada econômica consistente e sustentável, bem como a necessidade de avanço nas reformas estruturais, para justificar uma redução mais expressiva na taxa Selic. Portanto, a projeção de 12,75% reflete a visão do Santander de que a política monetária seguirá cautelosa no processo de afrouxamento.
• Banco do Brasil: 13,25% ao ano
O Banco do Brasil estima que a taxa Selic se mantenha em 13,25% ao final de 2023. Segundo José Luis Oreiro, economista-chefe do banco, embora existam pressões para uma redução dos juros, como a busca por uma política fiscal mais equilibrada, é necessário considerar os riscos e incertezas presentes no cenário atual. Oreiro destaca que a situação fiscal ainda demanda atenção, assim como a evolução da inflação e a implementação de medidas estruturais. Portanto, o Banco do Brasil adota uma postura mais conservadora, mantendo a projeção de 13,25% para a taxa básica de juros.
• Ativa Investimentos: 13,75% ao ano
A projeção da Ativa é que os cortes na taxa Selic comecem a ocorrer apenas a partir de abril de 2024. Étore Sanchez, economista-chefe da corretora, destaca que não há espaço para queda nos juros enquanto as expectativas de inflação estiverem desancoradas. Ou seja, fora das metas traçadas não só para 2023, mas para 2024 e 2025.
“A retomada da utilização de bancos públicos e empresas públicas e de expansão fiscal faz com que o nosso juro neutro se eleve, consumindo ‘por baixo’ a restrição de política monetária”, explica. “Diga-se de passagem, os 13,75% são muito menos restritivos do que já foram em outros momentos.”
• CM Capital: 12,5% ao ano
Na CM Capital, as expectativas são mais positivas: há previsão de cortes na Selic concentrados no último trimestre do ano, até que a taxa chegue a 12,5%.
Matheus Pizzani, economista da CM, destaca que o cenário internacional é incerto e que o ambiente doméstico ainda precisa lidar com pressões inflacionárias, além das discussões de reformas e temas fiscais. Por isso, não enxerga espaço para redução da taxa de juros no curtíssimo prazo.
Mas a possibilidade de aprovação de um novo arcabouço fiscal pode ajudar. Nesse caso, a medida precisa ser discutida e aprovada no Legislativo, para depois ter seus impactos incorporados nas decisões do comitê monetário – aí, sim, abrem espaço para a queda do juros no fim do ano. “A partir daí deve haver alguma margem para corte na taxa de juros e, dentro da nossa perspectiva, esse corte deve ocorrer no último trimestre do ano”, diz Pizzani.
• Genial Investimentos: 14,5% ao ano
A Genial tem a maior projeção de Selic para o final de 2023 dentre as casas consultadas: 14,5%. A avaliação é que o ciclo de aperto monetário será “extremamente contracionista” ao longo do ano de 2023.
Yihao Lin, coordenador de economia da Genial, explica que o principal fator de risco fiscal no momento é a incerteza em relação ao arcabouço fiscal a ser anunciado. Se a regra for “frouxa”, a corretora não vê espaço para cortes nos juros ainda que o cenário externo corrobore para isso.
“Caso haja uma regra frouxa, que não vá trazer uma trajetória mais benigna da dívida pública, mantemos a nossa projeção de 14,5% ao ano. Cortes em 2023 não estão em nosso cenário, principalmente pelo risco fiscal e o risco político”, diz Lin.
• Guide Investimentos: 12,25% ao ano
A Guide projeta uma Selic de 12,25% no fim de 2023, com o início dos cortes começando em setembro. Victor Beyruti, economista da casa, explica que está sob avaliação a possibilidade dos cortes começarem no mês de agosto. “Esse é o raciocínio, mas a princípio o nosso call se mantém”, diz, em relação à projeção de início dos cortes em setembro.
A possibilidade de cortes ainda em agosto vem da consequência de um cenário apoiado pela piora do cenário no exterior, que pode fazer o Fed abaixar os juros americanos mais rápido e abrir espaço para quedas por aqui também.
• Nord Research: 13,75% ao ano
A Nord Research não vê espaço para quedas dos juros ainda neste ano e mantém a projeção em 13,75% para 2023.
“Levando em consideração os fundamentos, não vemos justificativa suficiente para a Selic cair esse ano. Ainda temos um problema inflacionário e estamos distantes do cumprimento das metas”, explica o analista Christopher Galvão.
Galvão destaca, no entanto, as pressões que o governo tem feito ao defender que o patamar “justo” para a Selic no País deveria ser mais baixo – um cenário que pode fazer a taxa ser reduzida, ainda que os fundamentos estejam alinhados na direção da manutenção do atual patamar.
“Houve falas do governo que fizeram o mercado projetar uma Selic próxima de 12% esse ano. O que, ao nosso ver, seria uma taxa exageradamente baixa”, diz o analista. “O que de fato vai acontecer vai depender do quanto o Banco Central vai ceder a essas pressões (do governo).”
• RB Investimentos: 12% ao ano
A projeção da RB Investimentos é que a Selic encerre 2023 em 12%, com cortes nas reuniões do Copom a partir de agosto.
“Isso pode ser antecipado para junho se a regra fiscal for muito bem recebida, se a reforma tributária caminhar de forma ágil, ou se houver uma pressão via sistema de crédito, além de uma pressão via Fed”, pontua Gustavo Cruz, estrategista-chefe da casa.
• Rico: 13,75% ao ano
Na Rico, a visão é de que a taxa Selic deve se manter no atual patamar de 13,75% até o fim do ano. Com o cenário ainda muito incerto, a chefe de economia da casa, Rachel de Sá, destaca que a reunião do Copom da próxima semana será fundamental para entender como a instituição está avaliando as pressões que vem do exterior.
“Há muita coisa em jogo, já que no cenário doméstico também tem incerteza com um cenário de inflação corrente que está indicando certa estabilidade. Está todo mundo no compasso de espera e, por conta disso, mantemos a nossa expectativa”, diz Sá.
• Western Asset: perto de 12% ao ano
A Western Asset vê a taxa de juros brasileira perto de 12% no fim de 2023, com os cortes acontecendo de forma gradual ao longo do segundo semestre do ano. “Dependendo, claro, de uma sinalização de melhora nas condições fiscais e também de uma percepção de uma desaceleração da inflação ao longo do ano”, destaca Adauto Lima, economista-chefe da casa.
• XP Investimentos: 13,75% ao ano
A XP atualizou seu cenário base de política monetária na virada de 2022 para 2023 e mantém desde então a projeção de uma Selic em 13,75% por todo o ano. Rodolfo Margato, economista da corretora, explica que a revisão aconteceu após a aprovação da PEC da Transição.
Embora haja expectativas de avanços nas reformas estruturais e melhorias no cenário fiscal, ainda existem riscos que podem manter a taxa Selic em patamares elevados.
Vale ressaltar a importância de observar os indicadores econômicos e a evolução da inflação antes de tomar decisões sobre os juros. Dessa forma, o Banco Inter adota uma postura cautelosa e projeta uma taxa de 12,5% ao final de 2023.
É importante mencionar que as projeções das instituições financeiras são baseadas em análises e estimativas, e as taxas de juros podem variar de acordo com os acontecimentos econômicos e políticos ao longo do ano.
Portanto, essas projeções não são garantias absolutas e podem sofrer revisões à medida que novas informações se tornam disponíveis. Cabe ressaltar que as informações acima são baseadas no cenário econômico até setembro de 2021, e as projeções podem ter sido revisadas pelas instituições financeiras desde então.
É sempre recomendável consultar fontes atualizadas para obter informações mais precisas sobre as projeções da taxa Selic.
Conclusão:
As projeções para a taxa Selic no final de 2023 refletem a complexidade do cenário econômico e a existência de diversos fatores que podem influenciar as decisões do Copom.
A inflação, as expectativas inflacionárias, a situação fiscal do país, as reformas estruturais e os acontecimentos internacionais são elementos-chave para compreender as perspectivas divergentes das instituições financeiras.
É importante ressaltar que a evolução da economia, o comportamento dos indicadores e a tomada de decisões do Banco Central ao longo do tempo podem resultar em cenários diferentes do previsto.
Acompanhar as projeções e entender os fundamentos econômicos por trás delas é essencial para investidores, empresários e demais agentes econômicos, pois auxilia na elaboração de estratégias e na mitigação de riscos.
É recomendável buscar informações atualizadas e consultar especialistas para uma análise mais precisa e fundamentada sobre as perspectivas da taxa Selic no futuro.